Parece até nome de trilogia né...rsrsrsss
Pois é, estou voltando, mas provisoriamente. Estou em viagem de férias com meu marido e filha, e está meio difícil acessar a net. Mas como promessa é promessa, vou contar porque fiquei longe.
Em Fevereiro de 2010, minha irmã, Camilla, começou a sofrer com fortes dores de cabeça. Ela foi ao médico destas dores e de que o lado direito de seu rosto estava "amortecido", como ela mesma dizia. Uma semana depois estava internada no Hospital Evangélico de Curitiba. Nessa semana ela havia se transformado completamente, já não tinha mais perfeitos movimentos do braço, mão, perna e pé direitos. Havia um grande estrabismo e ela esquecia de palavras simples, como pedir um copo de água, ou ir ao banheiro, ela formava as frases, mas esquecias o que realmente queria.
Os médicos detectaram um tumor, pouco maior que uma azeitona, localizada na parte posterior inferior esquerdo do cérebro, pouco acima da altura da nuca. Caso igual, eles informaram nunca ter visto, e de imediato informaram da gravidade e que a cirurgia poderia não ser bem sucedida devido a região e pela grande pressão que ela fazia sobre a região responsável pela visão.
No dia 03 de março de 2010 ela fez uma cirurgia de cerca de dez horas e logo em seguida foi para UTI, onde permaneceu até o dia 16/03, onde ela foi transferida para o quarto.
Dia 24/04 ela voltou para casa, sem falar, enxergar, caminhar, e ainda sem movimentos dos braços. Era doloroso, mas pelo menos ela agora estava em casa.
No dia 17/05 ela começou a sofrer com dores estomacais, pelo menos era o que os médicos do posto que a atendeu disseram, e esta noite ela passou no pronto socorro. Dia 20 ela voltou e passou outra noite lá. No dia 22 a mãe não conseguia mais fazê-la comer e nem mais tocar nela, assim que a movimentava, a Camilla vomitava. Então ela voltou ao hospital, três dias da data marcada pelos médicos para seu retorno a uma nova tomografia. Ela chegou e foi direto para o balão de oxigênio. Subiu e fizeram os exames em caráter de emergência. No domingo 23, durante a tarde, o Dr.Borba voltou com a bomba, o tumor que era até então benigno, havia voltado e seria feita uma nova cirurgia, o quanto antes possível!
24/05 - segunda-feira, foi a última vez que vi minha irmã, assim posso dizer.
Dei um beijo nela antes de entrar no centro-cirúrgico, horas intermináveis se passaram, nem sei dizer quanto. Então o doutor veio até nós e disse que ela estava nas mãos de Deus a partir daquele momento. Que eles fizeram o impossível, o tumor havia voltado, maior que uma laranja, e que ela perdera muito sangue. Estava novamente na UTI.
25/05 - Terça-feira, Voltamos para o hospital, para a visita na UTI, subi com meu irmão e voltamos desesperados. Camilla não estava lá, depois de meia hora de correria, descobrimos que ela voltou ao centro cirurgico, para colocar um novo dreno, devido a grande pressão arterial em sua cabeça.
26/05 - Quarta-feira, antes de entrarmos na UTI, o médico nos separou do grupo dos outros visitantes, e ficamos sabendo que a nossa menina estava entrando em morte cerebral, ela não respondia a nenhum de nossos apelos desde a segunda-feira. Sua pressão arterial era 70/50.
27/05 - quinta-feira, nenhuma mudança no quadro clínico, eu continuava minhas orações em sua cabeça, e pedia a Deus que ela não sofresse mais. Abri o jogo com minha família, acho que essa foi a parte mais difícil, admitir que Camilla estava indo embora, e preparar a todos para os dias vindouros.
28/05 - Sexta-feira, fui sozinha ao hospital, não consegui ficar 5 minutos junto dela, sua PA estava 50/30, caí no choro no ombro do Pastor do Hospital.
Aquela hora e meia que liga Curitiba a Paranaguá deve ter durado um dia inteiro, eu chorava sem parar, acredito que o rapaz sentado ao meu lado estava incomodado, porém nada podia fazer. Só consegui sorrir quando vi minha filha e afilhada de braços abertos me esperando ao desembarcar do ônibus, acompanhadas pelo meu marido e meus compadres.
No sábado, Letícia, minha afilhada, se machucou, ela estava brincando e uma lajota caiu em seu pé. Liguei para minha mãe do Posto onde levamos a Leticia. Ela disse que a Camilla havia melhorado e que a sua PA voltou a 70/50. Fiquei feliz mas ao mesmo tempo, muito preocupado, acho que sabia o que aquilo significava.
No domingo, tudo igual e assim na segunda.
01/06 - 00:30 - terça-feira, o telefone tocou, era tudo o que eu não queria. Senti ela despedir-se de mim por volta das 10:30 da noite, meu peito parecia aliviado e até dormi durante minha oração, mas quando tocou aquele telefone, eu sabia. Minha mãe aos prantos sem conseguir dizer nada direito. Desliguei o telefone dizendo que retornaria em seguida. Ainda sinto os mesmos tremores que naquela noite. Comecei a chorar e em seguida me concentrei, precisava ser forte para este dia que apenas começava.
Acordei meu marido, retornei a ligação para a mãe e perguntei como estavam todos, pedi que ela se acalmasse e fui atrás do que tinha a fazer.
Minha família estava dividida, metade em Pinhais e metade em Paranaguá. Deixamos minha filha em casa dos meus compadres, minha amiga quis chorar e eu não a deixei, para que eu mesma não caísse ali. Fui até a casa de meu pai, quando ele me viu aquela hora, empalideceu. Fiquei com ele enquanto meu marido foi buscar meu irmão na casa dele. No caminho, ele ligou para um casal de amigos nossos para pegar a mãe e meu irmão, para irem até o hospital.
Em Paranaguá, meu pai, Junior e eu, fomos até a funerária para fazer a unica coisa a ser feita.
O mais importante, é que naquele fim de tarde choveu.
Sempre falávamos sobre nossas vidas e um dia ela disse que no dia do seu enterro, ela queria que chovesse muito forte. E Deus atendeu seu pedido, a garoa começou durante a última oração antes de fechar seu caixão. E na hora do último Adeus, chovia torrencialmente, e assim, Camilla, a jornalista recém formada, 22 anos, que estava de mudança marcada para o Rio de Janeiro para seguir seu sonho, com dois livros terminando de escrever, descansou.
É triste demais relembrar, eu fiz um resumão aqui, poderia muito bem ser um livro, mas ainda não me sinto preparada para tal. Ainda dói muito, e eu revivi tudo isso nas últimas semanas. No dia primeiro, só consegui levantar da cama porque meu marido me resgatou de lá.
Mas o que importa, é que ela ainda está conosco, e como diz minha filha Tauany, ela está brilhando lá no céu, é a estrelinha que nos segue durante toda a viagem, e onde quer estejamos.
Ainda com fé em Deus, e esperando que muitas famílias tenham a sorte diferente da nossa.
Só quero deixar um pedido a vocês, levem a sério todas as dores diferentes que tiverem. Vão ao médico. Acreditamos que Camilla tivesse o tumor a muito tempo, ela sempre reclamava de dor nos olhos e visão turva por algumas vezes, todas as idas ao oftalmologista registraram não ter problema algum, e era exatamente sobre o nervo ótico que se encontrava o tumor. Portanto, não brinquem e investiguem, só Deus sabe se não poderíamos te-la salva se descobríssemos antes!
um grande beijo a todos!
Camilla esquerda e eu a direita
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